### Terapia Adicional com Probióticos para Depressão: Um Estudo Abrangente
**Introdução**
O Transtorno Depressivo Maior (TDM) continua sendo um dos transtornos psiquiátricos mais prevalentes e desafiadores, com muitos pacientes não respondendo adequadamente aos tratamentos convencionais. Este estudo investiga o potencial dos probióticos, que atuam no eixo microbiota-intestino-cérebro (MIC), como uma abordagem de tratamento inovadora. O eixo MIC é crucial na regulação de funções fisiológicas e comportamentais ligadas à depressão.
**Visão Geral do Estudo**
Este ensaio clínico randomizado (ECR) explorou os efeitos de um suplemento probiótico de alta dose como terapia adicional para pacientes com episódios depressivos atuais. Durante 31 dias, os participantes receberam um probiótico multicepa ou um placebo, além de seu tratamento usual. O desfecho primário foi medido usando a Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton (HAM-D), com avaliações adicionais para a composição microbiana do intestino e função cerebral.
**Principais Descobertas**
1. **Redução dos Sintomas Depressivos**
Os escores da HAM-D diminuíram significativamente ao longo do tempo no grupo que recebeu probióticos, em comparação com o grupo placebo. A interação entre tempo e grupo indicou uma diminuição mais acentuada dos sintomas depressivos no grupo dos probióticos. O tamanho do efeito foi moderado a grande, com um d de Cohen de 0,95, e essa diferença foi estatisticamente significativa (p < 0,01).
2. **Diversidade Microbiana Intestinal**
Os probióticos mantiveram a diversidade microbiana intestinal e aumentaram a abundância do gênero Lactobacillus. Esse aumento foi associado à redução dos sintomas depressivos no grupo que recebeu probióticos. O aumento da Lactobacillus teve uma correlação negativa significativa com os escores de depressão (HAM-D e BDI).
3. **Mudanças Neurais**
A ativação do putâmen em resposta a rostos neutros diminuiu significativamente após a intervenção com probióticos. Essa diminuição foi observada no putâmen direito (p < 0,001) e no putâmen esquerdo (p < 0,001). O putâmen é uma região cerebral envolvida em processos emocionais e de recompensa, e sua hiperativação em resposta a estímulos neutros é frequentemente observada em pacientes com depressão. A redução da ativação do putâmen sugere que os probióticos podem ajudar a normalizar o processamento emocional, reduzindo o viés negativo frequentemente associado à depressão.
**Interpretações e Implicações**
Os resultados indicam que o tratamento adicional com probióticos pode melhorar os sintomas depressivos, juntamente com mudanças na microbiota intestinal e na função cerebral. Isso destaca o papel do eixo MIC no TDM e enfatiza o potencial das abordagens de tratamento relacionadas à microbiota como terapias acessíveis, pragmáticas e não estigmatizantes para a depressão.
### Dados Estatísticos e Interpretações
1. **Escore HAM-D**
- **Resultado:** O escore HAM-D diminuiu mais no grupo probiótico (d=0,95) em comparação com o placebo.
- **Interpretação:** A intervenção probiótica mostrou uma redução significativa nos sintomas de depressão, sugerindo uma eficácia superior ao tratamento usual isolado.
2. **Diversidade Microbiana**
- **Resultado:** A diversidade microbiana foi mantida no grupo probiótico, enquanto no grupo placebo houve uma redução nos índices de diversidade como o índice de Shannon.
- **Interpretação:** A manutenção da diversidade microbiana pode ser um fator chave na melhora dos sintomas depressivos, apoiando a ideia de que uma microbiota intestinal saudável contribui para a saúde mental.
3. **Ativação do Putâmen**
- **Resultado:** Houve uma diminuição significativa na ativação do putâmen em resposta a rostos neutros no grupo probiótico.
- **Interpretação:** A ativação do putâmen está associada ao processamento de emoções e recompensas. Pacientes com depressão frequentemente mostram uma hiperativação do putâmen em resposta a estímulos neutros, percebendo-os como negativos. A redução da ativação no grupo probiótico sugere que o tratamento pode ajudar a normalizar a percepção emocional, tornando os rostos neutros menos negativamente carregados.
**Conclusão**
Este estudo reforça a importância do eixo microbiota-intestino-cérebro no tratamento da depressão e destaca o potencial dos probióticos como uma terapia complementar eficaz. As mudanças observadas nos sintomas depressivos, na diversidade microbiana e na função cerebral sugerem que os probióticos podem oferecer uma abordagem terapêutica inovadora e promissora para pacientes com TDM.
**Referência:**
Schaub, A.-C., Schneider, E., Vazquez-Castellanos, J.F., et al. (2022). Clinical, gut microbial and neural effects of a probiotic add-on therapy in depressed patients: a randomized controlled trial. *Translational Psychiatry, 12*, 227. https://doi.org/10.1038/s41398-022-01977-z
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